S FADAS FIANDEIRAS

Fiar e tecer é uma das atividades mais conhecidas realizadas pelas fadas. Em muitos contos de fadas o fuso e a roca possuem papel fundamental no desenvolvimento da trama, como no conta da "Bela Adormecida do Bosque", em que a princesa protagonista é condenada ao ferir-se com a roca aos dezesseis anos e cai adormecida. Tanto Perrault como Grimm têm uma versão desse relato, enquanto os irmãos Grimm a chamam de "Rosa com espinhos". Em outros contos populares uma fada ou duende ajudam moças com dificuldades de tecer, como no relato de "As Três Fiandeiras" de Hendersen ou no conto popular inglês de Tom Tit Tot.

As moiras já tecia, o destino dos homens na antiga Grécia, e os romanos as conheciam com o nome de Parcas. Porém duas raças de fadas se destacam nessa profissão: as Gianas da Sardenha e as Habetrot da Escócia.

AS GIANAS

Em sua origem, as Gianas eram gênios dos bosques que apareciam na forma de belas mulheres que viviam próximas das árvores em contato com a madeira, com que faziam as rocas. Eram parentes das Sidhe, as fadas aristocráticas. Igual à elas,eram altas, vestiam elegantes túnicas brancas, enquanto se distinguem por apresentarem peitos grandes.

Montavam suas rocas entre as árvores. Não gostavam do contato com os humanos, mas se algum se atrevesse à aproximar-se aproveitavam para predizer-lhes o futuro, que liam no fio enquanto avançava a roca.

Com o passar do tempo essas mulheres foram ficando anti-sociais e se esconderam em cavernas ou grutas. Hoje em dia se encontram nas grutas da Sardenha, com roupas camponesas e gostam de ajudar os humanos com suas predições, porém as vezes são um pouco brutas e podem confundir um mortal.

Se desejas encontrar uma giana para pedir-lhe que fale sobre o seu futuro, deves viajar até a Sardenha e procurar uma árvore que esteja em frente à uma cova ou gruta e pronunciar seu nome. Ela responderá seu chamado.

HABETROT

Habetrot é uma fada das terras baixas da Escócia e padroeira das fiandeiras. Se acredita que um blusão tecido por ela constitui um remédio muito eficaz contra qualquer enfermidade. Ela, entretanto, não é uma fada bela, não possui cabelo loiro, nem voz angelical, muito pelo contrário, apresenta-se como uma anciã de cabelo desalinhado, de lábios grandes de deformados e um nariz proeminente. Todavia, apesar desse aspecto, é uma das fadas mais ternas e bondosas com o ser humano. Ela dedica-se horas à fio ao trabalho manual de tear e por isso, possui alguns defeitos. O lábio disforme é de tanto tirar a linha para fiar; outras possuem os dedos torcidos, os pés enormes são de pisar na roca.

O mérito dessa fiandeira é que também se dedica grande parte de seu tempo a ajudar os mortais, sobretudo as moças que apresentam alguma falta de habilidade para exercer o ofício de fiandeiras. Antigamente as mães se empenhavam em ensinar as filhas a fiar, cozinhar e outros trabalhos femininos, com o intuito de as tornarem bem "prendadas" e conseguirem, desse modo, um bom casamento.

William Henderson em "Folk-Lore of the Northern Counties" (pp. 258-262) conta uma história do manuscrito Wilkie sobre essa fada que tem muito interesse:

Uma boa mulher de Selkirkshire tinha uma filha bonita e preguiçosa que preferia vagar pelos campos colhendo flores à aprender a fiar. A boa mulher fazia tempo que desejava converter a mocinha em uma fiandeira notável, porém tudo era em vão, até que um dia perdeu a paciência, deu na sua filha uma boa surra e jogou diante dela sete madeixas de linho e lhe disse que ao término de três dias tinha que estar com eles fiado.

A jovenzinha sabia que sua mãe estava bem zangada e trabalho duro o dia todo, porém não produziu quase nada. Chorou até cair adormecida. Ao despertar viu que fazia uma manhã maravilhosa e subiu até a janela de seu quarto, pulou e fugiu até os campos. Andou de um lado a outro do rio desconsolada e encontrou uma pedra furada através da qual, como todo mundo sabe, é possível ver os duendes. Olhando para dentro, se surpreendeu ao distinguir um túmulo de duendes e onde uma estranha mulherzinha que se ocupava tirando o fio com um lábio grande e comprido.

-"Por que tens um lábio tão longo, boa mulher?", perguntou a moça.

-"De tirar o fio, jovenzinha", replicou a anciã, que era nada menos que a fada Habetrot.

A jovem começou a falar com a velha fada, queixando-se de sua incapacidade para tecer, e lhe revelou a tarefa que lhe havia imposto sua mãe.

-"Traga-me teu linho, e eu o fiarei no prazo pontualmente, disse a boa fada. Em um abrir e fechar de olhos voltou com as sete madeixas. Habetrot chamou outras fadas de longos lábios inferiores, que sentaram e iniciaram em seguida o trabalho.

A jovem sentou-se, completamente confusa e esperou. Em pouco tempo a moça dormiu e quando acordou quando o sol estava quase se pondo e ouviu uma espécie de zumbido e vozes que cantavam procedentes de debaixo de sua cabeça. Olhou a pedra furada e debaixo dela viu a caverna e dentro dela as anciãs sentadas fiando. Todas tinham lábios, muito, mas muito longos, sendo todas dirigidas por uma única fada, a boa senhora que havia conversado com ela.

-"Pouco sabe a jovenzinha de cima que Habetrot é meu nome!".

Havia uma fiandeira sentada um pouco afastada das outras que era a mais feia de todas, Habetrot se aproximou dela e disse:

-"Ata o fio, Pequena Mab!, pois é hora da jovem levar tudo para sua mãe."

Ao ouvir isso, a moça sabia que teria que apresentar o trabalho à sua mãe. A fada então entregou-lhe tudo pronto, mas aconselhou a jovem a não contar quem havia trabalhado o linho.

A mocinha entrou em casa muito satisfeita, mas também esfomeada, já que não havia comido nada desde o dia anterior. A mãe estava na cama dormindo profundamente, pois tinha trabalhado duro todo dia fazendo morcelas. A jovenzinha estendeu o fio de modo que sua mãe pudesse vê-lo quando levantasse e logo reavivou o fogo e cortou a primeira morcela e comeu, e logo a segunda, a terceira, até ter comido as sete que havia. Depois foi dormir.

Na manhã seguinte a mãe acordou primeiro. Viu sete belas meadas de fios estendidas, porém não havia rastro de suas sete morcelas. Meio aturdida entre a alegria e a cólera, saiu correndo da casa cantando:

-"Minha filha fiou sete, sete, sete,

minha filha comeu sete, sete, sete,

e tudo antes do sair do sol!"

E eis que por ali passava montado em seu cavalo um jovem senhor do lugar:

-"O que é que gritas, boa mulher?"

Ela voltou a cantar:

"Minha filha fiou sete, sete, sete,

minha filha comeu sete, sete, sete,

e si não crês, venha vê-los vos mesmo!".

E o senhor a seguir ao interior da casa, e quando viu a suavidade e a regularidade das meadas quis ver quem havia fiado, e quando viu a linda moça a pediu em casamento. O moço era belo e elegante e a jovem disse que ficaria muito contente em casar-se com ele. Porém, uma coisa lhe preocupava, como contar que não tinha sido ela que fiara as meadas!

Assim, ao entardecer, a jovem foi até a pedra furada e chamou Habetrot e contou-lhe seu problema. A fada solícita pediu que a jovem que leva-se seu marido à visitar as fadas fiandeiras. O casal foi introduzido no túmulo e o moço se horrorizou ao ver as costas e os lábios deformados das mulheres.

-"Sim, todas fomos antigamente muito belas antes de começar a fiar, declarou Habetrot.

-"A tua esposa lhe acontecerá o mesmo depois de tirar o fio com seus belos e vermelhos lábios e de inclinar junto a roca suas costas jovens e encantadoras!

-"Não será assim", afirmou o elegante senhor, assustado ante a perspectiva de que sua mulher pudesse perder sua beleza. A conduziu para sua casa e proibiu que tocasse na roca e todo o linho que crescia em sua terra ia parar direto nas mãos de Habetrot para ser fiado. Assim que, no final, tudo ficou as mil maravilhas.

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©2007 Imagem Magnetica Por Elke di Barros